O que é que me dirias se estivesse no fim? Quais seriam as tuas últimas palavras? Que verdades expunhas, que segredos revelavas? O que é que me ocultavas se chegasse ao pé de ti e te dissesse que este seria o último dia? Que este ou aquele seria o último dia deste ser frágil e pensante, de cabeça no ar e pés na terra, de humor inconstante e de natureza estranha? Que último gesto me transmitias? Que tipo de olhar? Apresentarias-te distante?
E se o caso fosse outro, e se nada te dissesse e simplesmente no dia a seguir já não estivesse cá? Sentirias algum vazio? Choravas ou simplesmente odiavas-me por nada te ter dito? Rasgavas todas as minhas fotografias, todas as recordações e todas as lembranças?
Preferia que não chorasses.
Preferia que nem sequer te lembrasses ou desses conta da minha falta.
Preferia que ninguém notasse, que a minha imagem desaparecesse com o vento, embalada em ruídos e sons estranhos. Que ela fosse, fosse para onde estaria descansada. Não sei onde seria, nalgum lugar, um lugar calmo.
Por vezes fico tão furiosa que não sei para onde me vire.
Não levem a mal, canso-me.